Algumas
perguntas sempre surgem na cabeça de quem está
reformando ou construindo. E na de quem acaba de
levar um choque no chuveiro ou perdeu o
equipamento de som em razão de um mal de que o país
inteiro é vítima: os raios. Saber o que acontece
na sua instalação elétrica pode ajudá-lo a
evitar prejuízos – de um curto-circuito capaz
de destruir os seus equipamentos a uma conta de
luz que mina o seu orçamento mês a mês.
É
verdade que uma casa com tensão de 220 volts
gasta menos energia?
Não. A única diferença entre 110 V e 220 V está
na bitola dos cabos. Um ramal de 1 200 W de potência
terá, em 220 V, aproximadamente a metade da
bitola de um outro, de mesma potência, que usa
110 V. Na ponta do lápis, a economia é
significativa (bitola menor, custo menor). Os
eventuais acidentes e choques com uma tensão de
220 V, porém, são mais perigosos que em 110 V.
Por isso, a maior parte dos projetistas recomenda
o 220 V apenas para circuitos específicos, que
alimentam os equipamentos de maior consumo e pedem
ramais exclusivos.
Existe
o risco de choque no chuveiro elétrico, mesmo com
a instalação em ordem e o sistema aterrado?
Sim. Ainda que remotamente, até os chuveiros elétricos
que usam resistências blindadas oferecem esse
risco. Essa foi uma das razões que levou a ABNT a
adotar os dispositivos de controle de fuga de
corrente (DR). Quando uma descarga se precipita no
chuveiro, o dispositivo se encarrega de acusar e
desviar o excesso de carga do sistema, evitando o
choque.
O
disjuntor desarma a toda hora. Devo colocar um de
amperagem maior?
Não. É
preciso saber o porquê de tão sucessivos
incidentes. Uma das hipóteses é a de que o
sistema esteja operando acima de seu limite. Isso
é bastante comum em casas antigas, que não foram
adaptadas à maior demanda de energia dos
equipamentos modernos. Nesse caso, a queima do fusível,
ou o desarme do disjuntor, pode ser sinal de
excesso de carga para as dimensões de sua instalação.
A única alternativa é a reforma.
Se você mora em edifício, há mais um item a ser
considerado: a prumada – o cabo que sobe desde o
térreo, ou subsolo, levando a eletricidade até o
seu apartamento. Ela pode ter ficado inadequada
para o seu consumo atual de energia, provocando
desarme do disjuntor na caixa de entrada do prédio.
A única solução é trocar a prumada por um cabo
de maior bitola. Em alguns edifícios, o condomínio
se encarrega da troca geral; em outros, cada
apartamento se responsabiliza pela sua. E
lembre-se de fazer o cálculo da quantidade de
energia a ser usada em seu apartamento para que um
projetista determine a bitola da nova prumada.
Variações
de tensão, comuns nas redes brasileiras,
prejudicam os aparelhos?
Para os
aparelhos bivolt – que trabalham com tensões de
90 a 240 volts – as variações não trazem
prejuízo. Mas os que operam com apenas uma tensão
podem sofrer avarias. Fique atento, também, aos
aparelhos importados que não sejam bivolt. Os
japoneses, por exemplo, operam com 100 V, o que os
torna incompatíveis com o sistema brasileiro, que
quase sempre adota 110 V. Não são raros os casos
de aparelhos japoneses queimados à primeira conexão
na tomada.
Como
resguardar minha casa dos raios?
Por sua
posição geográfica, o Brasil é o país que
mais sofre a incidência de raios – descargas elétricas
de milhões
de volts que nascem entre as nuvens e descem até
o solo
(os relâmpagos não chegam ao chão, são como
enormes fagulhas que surgem e morrem no céu).
Como todas as instalações e os aparelhos
residenciais são projetados para trabalhar em
tensões que vão de 90 a 240 V, imagine o que
acontece quando tudo isso recebe 1 milhão de
volts de uma só vez: a estrutura da casa é
danificada, o que pode causar incêndio, queima de
aparelhos e até ferimentos nos moradores.
Infelizmente, ainda não se encontrou um sistema
totalmente à prova dos temíveis raios. Mas é
possível minimizar seus efeitos.
Gaiola de Faraday
Quem
mora em casa deve considerar a instalação
de um pára-raios. Os mais usados no Brasil,
conhecidos como gaiola de Faraday, são os que lançam
mão de pequenas hastes coletoras, espalhadas
pelas extremidades da construção, interligadas
por cabos de cobre. Quando um raio atinge a casa,
esse sistema se encarrega de distribuir a carga
pelos diferentes ramais, que vão até o solo e
mantêm a construção eletricamente neutra.
Franklin
Outro sistema, o Franklin, consiste em um mastro
metálico, instalado sobre o telhado e ligado a
cabos que conduzem a eletricidade até o solo. Só
uma empresa especializada pode dimensionar
adequadamente a sua proteção e indicar o melhor
método (há casos em que os dois sistemas são
combinados).
De qualquer forma, os pára-raios protegem apenas
a casa
e em um perímetro determinado – a vizinhança não
fica resguardada. Eles também não preservam
eletrodomésticos nem computadores. Se a
sobrecarga vier pela rede elétrica, pelo fio do
telefone ou até mesmo pelo cabo da TV por
assinatura, é possível que você tenha seus
aparelhos danificados. Para proteger os
equipamentos foi criado o supressor de surto de
tensão – dispositivo que desvia as sobrecargas,
funcionando como uma espécie
de pára-raios interno. Ele não ocupa espaço:
instalado
no disjuntor (acima), ele termina em uma pequena
caixa colocada junto ao equipamento. Mesmo que você
instale
um para cada aparelho, é importante ter um
supressor
mais potente no quadro de entrada da casa
e outro na entrada do telefone.
Existe
uma forma simples de economizar energia?
A melhor
maneira de economizar é fazer um projeto bem
dimensionado. Se você optar por chuveiros elétricos
ao invés de aquecedores a gás ou energia solar,
por exemplo, seus banhos certamente serão mais
caros. Mas, no dia-a-dia, é possível tomar
providências que baixarão as cifras de sua conta
de luz.
Chuveiro
elétrico: no verão, ajuste o seletor.
A mudança de chave representa uma diminuição de
até 30% no preço da água quente.
Geladeira:
instale-a em lugar protegido dos raios solares.
Nunca use a parte de trás para secar tecidos nem
forre as prateleiras. Também não deixe a porta
aberta por muito tempo.
Ferro
elétrico: evite ligá-lo várias vezes
– o que mais consome energia é o aquecimento do
aparelho.
Máquinas
de lavar: espere juntar roupa ou louça
suficiente para usar a capacidade total da máquina.
E mantenha os filtros limpos.
Televisor:
mesmo com um consumo nominal relativamente baixo,
eles gastam bastante, pois tendem a ficar ligados
por muito tempo. TV ligada, só quando alguém a
estiver assistindo. O mesmo vale para computadores
e impressoras
Vou
comprar um imóvel usado. Como saber se a rede elétrica
tem problemas?
Você
pode consultar um eletricista de sua confiança,
mas não existe nenhum sistema seguro para fazer
uma avaliação completa. Você só saberá quando
os disjuntores começarem a cair assim que seus
aparelhos, lâmpadas e chuveiros forem acionados.
Infelizmente, também não há uma maneira de
refazer circuitos ou de acrescentar novos pontos
de luz e de tomadas sem quebradeira. O mercado já
ofereceu algumas alternativas, como um sistema de
lâminas metálicas envoltas em material plástico
colocadas sob o carpete – era preciso apenas
abrir um pequeno trecho de parede, onde seria
instalado o novo ponto. Por falta de segurança, o
produto já não circula. As canaletas plásticas,
que correm sobre a parede, são hoje a única
alternativa possível, mas só são indicadas para
circuitos de baixa tensão. Agora você entende
por que muitas casas européias mantêm sua
instalação à vista: a manutenção e as
reformas tornam-se mais fáceis.
Como
escolher a lâmpada certa entre tantas disponíveis
no mercado?
Na
hora da compra, pergunte sobre o consumo de
energia, que vai de 9 a 650 watts, e sobre o IRC
– Índice de Reprodução de Cor –, que varia
entre 70 e 100 e diz respeito ao tom da lâmpada.
Quanto mais próximo da luz do Sol, maior é o
IRC.
Incandescente
O
mercado oferece uma infinidade de modelos, mas não
se atrapalhe: as lâmpadas se enquadram,
basicamente, em três grupos: incandescentes, halógenas
e fluorescentes. As mais antigas, que ainda
predominam nas residências, são as
incandescentes, que produzem luz a partir do
aquecimento de um filamento de tungstênio. Com
IRC de 100 (excelente), elas apresentam um baixo
custo unitário. Os inconvenientes são o alto
consumo de energia e a vida útil não muito longa
(1 000 horas, em média). As incandescentes,
ainda, costumam escurecer com o passar do tempo.
Isso acontece porque o filamento de tungstênio
desprende partículas que vão aderindo às
paredes da lâmpada, causando o escurecimento. É
claro que a poeira e a poluição acumuladas sobre
ela contribuem para diminuir sua eficiência.
Aqui, a solução é simples, mas geralmente
esquecida: lâmpadas também precisam ser limpas.
Halógena
As
halógenas são incandescentes que sofreram a adição
de gases halógenos – eles reagem com as partículas
de tungstênio desprendidas e as depositam de
volta no filamento. Por esse motivo, elas não
escurecem e duram mais (entre 2 000 e 4 000
horas). Esse grupo inclui as dicróicas – halógenas
dotadas de um relfletor capaz de reduzir o calor
excessivo produzido por esse tipo de lâmpada.
Fluorescente
Mais
econômicas (seu consumo é 80% menor que o das
incandescentes), as fluorescentes não têm
filamento, mas gás mercúrio, e emitem luz fria a
partir da descarga gerada por um reator. A
durabilidade é considerável: entre 7 000 e 10
000 horas. O IRC varia de 70 a 85. Os modelos mais
novos, que respondem pelo IRC mais alto, são
encontrados em diversas tonalidades, das mais
esbranquiçadas às mais amareladas. Portanto,
preste atenção aos ambientes em que vai usá-las.
Eficientes em banheiros, cozinhas e salas de
estudo, as fluorescentes podem dar a espaços como
salas e quartos uma atmosfera que lembra os escritórios.
Quando
algum equipamento é acionado, a luz perde
intensidade. O que fazer?
Esse
tipo de interferência é comum e, geralmente,
acontece quando se liga um aparelho de maior potência.
Fique alerta: costuma ser sinal de que a distribuição
de fases não está equilibrada. A solução é
criar novos – e exclusivos – circuitos para os
aparelhos que consomem mais energia, liberando os
circuitos das lâmpadas e das tomadas comuns.